PRECISA-SE DE PROFESSORES!

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Há cada vez mais universidades na China continental interessadas em abrir cursos de ensino de língua portuguesa. Mas a formação de professores e a qualidade do ensino não está a conseguir acompanhar o ritmo. No Continente, espera-se mais ajuda de Macau. Mas, na RAEM, as soluções não estão à mão de semear.

A mensagem vem do norte, de Pequim. Há falta de quadros qualificados para o ensino do português na China continental. Com o interesse da língua de Camões em expansão na China – e 21 instituições de ensino superior com licenciaturas só no interior do país -, a necessidade de recrutar professores é hoje um dos maiores desafios para quem está à frente destes programas.

“Recentemente, durante um seminário, fui consultado para a abertura de um novo curso de português numa universidade em Baoding, na província de Hebei”, começa por dizer Wang Cheng An, que está à frente do Centro de Estudos dos Países de Língua Portuguesa da Universidade de Economia e Negócios Internacionais, em Pequim.

A acontecer, esta será a segunda universidade – depois de Shijiazhuang – a abrir um curso de português na Província de Hebei. Só no triângulo geográfico formado por Shijiazhuang, Tianjin e Pequim, com um perímetro aproximado de 600 quilómetros, são nove as instituições de ensino superior que oferecem a licenciatura em Estudos Portugueses.

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Há uma década contavam-se pelos dedos de uma mão o número de universidades da China continental que tinham programas de português no currículo. Hoje, cerca de 1500 pessoas estão a estudar o idioma, um fenómeno que está associado ao rápido desenvolvimento das relações económicas e comerciais entre a China e os países de expressão portuguesa e à boa perspetiva de empregabilidade.

“Ainda há uma grande insatisfação nestas universidades chinesas porque é difícil recrutar professores bilingues e qualificados”, nota Wang Cheng An. E avança: “Se Macau é a plataforma entre a China e a lusofonia, então é lá que poderá estar a solução para este problema.”

JOVENS E INEXPERIENTES

São jovens lusófonos e procuram uma experiência na China, ou são chineses, terminaram os estudos na área da Língua Portuguesa e estão à procura de um primeiro trabalho. Este é o perfil de muitos dos professores de língua portuguesa das universidades chinesas no interior do país. “São recém-licenciados e passaram de alunos a docentes”, sublinha Carlos Ascenso André, Coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP), do Instituto Politécnico de Macau. “Isso vai traduzir-se necessariamente em deficiências no ensino”, realça. Carlos Ascenso André, antigo diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra foi convidado há um ano para coordenar o CPCLP.

Deixou para trás uma carreira em Coimbra e recebeu em mãos um mundo por consertar: a formação de professores de língua portuguesa na China. “Existe o mito de que basta ser-se português com formação em qualquer área para poder ensinar a língua portuguesa e isso não é verdade. O ensino das línguas modernas como línguas estrangeiras é hoje uma área do conhecimento, uma área científica, e por isso é preciso trabalhar muito.”

Fernanda Gil Costa, responsável pelo Departamento de Português da Universidade de Macau (UMAC) concorda: “É necessária toda uma formação e reflexão sobre a língua”.

A UMAC, que recebe cerca de 70 alunos por ano para a licenciatura em Estudos Portugueses, 15 para o mestrado em Estudos da Tradução e à volta de 20 para o Mestrado em Língua e Cultura Portuguesa, também sente na pele a falta de professores qualificados bilingues, “sobretudo para o mestrado em tradução.”

“Teríamos interesse em ter mais docentes nativos chineses com capacidade para entender e falar português”, realça a diretora, apontando para a necessidade de definir políticas e sensibilizar as autoridades daquele estabelecimento de ensino “no sentido de as levar a aceitar linhas de intercâmbio e apoio aos professores de língua portuguesa na China”.

MACAU PODE FAZER A DIFERENÇA

Dar continuidade à formação – seja através de um mestrado ou doutoramento – como forma de aumentar a qualidade do ensino do português na China é uma das preocupações da diretora do Departamento de Português da Universidade de Macau. Uma das queixas é a de que “existe uma incapacidade dos professores em encontrarem meios de qualificação e de prosseguirem os estudos. O que encontram é a possibilidade de ir para Portugal frequentar o doutoramento, e isso geralmente falha porque implica perder o emprego onde estão colocados ou porque não têm bolsas ou outro tipo de apoio”, explica Fernanda Gil Costa.

Na China continental existem apenas duas universidades que oferecem programas de mestrado em Estudos Portugueses – a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim e a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai. Mais uma vez, Macau pode fazer a diferença. E a diretora do departamento de Português da UMAC admite que está a estudar “vários mecanismos”, como a conceção de um programa de doutoramento para professores que ensinem português em universidades na Ásia.

“Um dos meus interesses era trazer professores chineses para fazer o doutoramento em Macau. É mais lógico que se faça aqui do que em Portugal”, realça a responsável.

O doutoramento é também uma das exigências de recrutamento de docentes para o Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau. Porém, Carlos Ascenso André relembra que “não existe uma abundância de doutorados na área da linguística que tenham algum curículo no ensino da lingua portuguesa como idioma estrangeiro”.

O CPCLP, que está a funcionar desde 2012, conta com um corpo docente de três professores portugueses – em breve serão cinco. O recrutamento a Portugal também tem que se lhe diga: “Em Portugal, os doutorados ainda não se converteram muito à mobilidade e não é fácil convencer uma pessoa a deslocar-se para o outro lado do mundo”, reconhece o coordenador, que admite que a contratação de profissionais de outros países da esfera lusófona é sempre uma possibilidade. “Há excelentes professores nesta área no Brasil e em Moçambique – um ambiente científico que conheço.”

IPOR PARA DAR O SALTO

O início de carreira de um docente de origem chinesa como professor de língua portuguesa pode começar no Instituto Português do Oriente (IPOR). Numa parceria que estabeleceu com a Universidade de Macau, esta instituição sem fins lucrativos começou a oferecer estágios a recém-licenciados. “Temos aqui uma estrutura diária no terreno que pode ser altamente vantajosa para programas de formação de docentes. Esta é uma novidade porque ainda não existe [em Macau] uma componente de prática letiva após uma licenciatura”, explica João Laurentino Neves, que está à frente do IPOR desde 2012.

O IPOR conta com nove professores, em regime permanente, e 22 colaboradores. O diretor sublinha, além disso, a necessidade do bilinguismo entre a classe docente. Até porque “este é muitas vezes um requisito de quem quer aprender português, sobretudo em contexto profissional”. No que diz respeito à formação em língua portuguesa em Macau, João Laurentino Neves deixa uma sugestão: a criação de um mecanismo de comunicação entre aqueles que trabalham na promoção da língua portuguesa. “Há várias instituições a trabalhar e a abrir cursos e licenciaturas em língua portuguesa. Começa talvez a fazer sentido haver um fórum de discussão destas iniciativas, de forma a que se comecem a evitar possíveis sobreposições. Começa a haver a existência de formações de caráter semelhante promovidas por diversas instituições.”


Fonte: Plataforma Macau

Sobre O IILP

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