Por uma educação bilíngue competente


Bandeira Cabo VerdeAna Josefa Cardoso, autora do projecto de educação bilíngue de crioulo e português, defende que “não podemos continuar a fingir que a nossa língua materna não existe e mantê-la fora do sistema educativo. Não me parece sensato continuar a fazer ouvidos moucos e fingir que no final da escolaridade todos os alunos têm um domínio suficiente do português para as suas necessidades, quando nem sequer têm consciência das diferenças entre a sua língua materna e o português”. Por isso, a especialista defende que “é necessário olhar para a educação bilíngue com seriedade, investir na formação de professores e na criação de condições para que não se mantenha eternamente como uma experiência dependente apenas da boa vontade e do empenho de algumas pessoas”.

Para a professora, todas as crianças têm o direito de chegar à sala de aulas e compreender aquilo que o professor está a ensinar, sem que isso seja “angustiante”, mas avisou que o ensino da língua portuguesa continuará “bastante comprometido” em Cabo Verde, se não houver uma maior valorização e desenvolvimento do ensino da língua materna.

Para Ana Josefa Cardoso, está “mais que provado” que o ensino formal da língua materna facilita a aprendizagem das outras línguas e das outras áreas curriculares, explicando que o projecto denominado “Si ka fila tudu, ta fila un pónta – Uma experiência de Educação Bilingue”, elaborado no âmbito do seu curso de doutoramento em Linguística, foi apresentado ao Ministério da Educação de Cabo Verde e aprovado para seis anos de escolaridade (do 1º ao 6º ano de escolaridade).

A autora esclareceu que a implementação do projecto bilíngue iniciou no ano lectivo de 2013/2014 em duas escolas básicas da ilha de Santiago, uma no Concelho de São Miguel, em Flamengos e outra na Cidade da Praia, em Ponta d’Água, sendo que após a avaliação do primeiro ano da experiência e “face aos resultados positivos obtidos”, no ano lectivo seguinte foi alargado a duas escolas do Tarrafal (Santiago) e no ano lectivo 2015-2016 continuou o alargamento a duas escolas do Concelho de São Domingos e duas da ilha de São Vicente.

Ana Josefa Cardoso sublinhou que a principal motivação do projecto foi a situação linguística que se vive em Cabo Verde e a evidência de que o ensino monolíngue, apenas em português, “não tem dado provas de eficácia suficiente” para que os alunos tenham um bom desempenho na língua portuguesa que, por sua vez, também veicula as aprendizagens de todas as áreas curriculares.  

Desta forma, a docente salientou que o modelo de bilinguismo escolhido promove uma forma “forte de bilinguismo”, assente na biliteracia, em que ambas as línguas são línguas curriculares e línguas veiculares de outras áreas como a Matemática e Ciências Integradas, entre outras, fazendo com que os alunos aprendam a ler e a escrever em cabo-verdiano e em português e tenham metade do tempo lectivo em cada uma das línguas.

“Os dados recolhidos, que foram objecto de análise aprofundada, indicam que os alunos das turmas bilíngues pioneiras têm um desempenho na língua portuguesa superior ao dos alunos da turma de controlo que têm um ensino monolíngue exclusivamente em português”, destacou, constatando que os alunos da turma bilíngue estão a desenvolver uma própria consciência linguística, conseguindo estabelecer fronteiras claras entre as duas línguas.

Fonte: INFORPRESS

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2 respostas a Por uma educação bilíngue competente

  1. Christian Lopes diz:

    Louvo o esforço e deposito a minha confiança em todos os cientistas e estudiosos dedicados à oficialização do nosso crioulo.

  2. Joana Inês Sá diz:

    …Seria tudo muito bem se alguns destes estudiosos, estivessem de facto ao serviço do que proclamam com pompa e luzes da ribalta.
    Afinal, esta senhora veio cá com grande estardalhaço e se calhar com um bom projecto, mas deixou-o e foi-se embora para Portugal, assim que conseguiu dados sobre o ensino bilingue para a sua tese universitária.
    Esta é a informação que corre daquilo que se passou com as turmas de ensino bilingue aqui implantadas. Assim que se apanhou com os dados…ala! para Portugal. No Ministério da Educação esperam por notícias… As turmas foram ao ar…
    Enfim…tanta importância, dada ao caso que mobilizou, turmas, professores e ela (a autora) como Coordenadora para acabar assim!!!

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