O ENSINO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA DE HERANÇA, POR EDLEISE MENDES

Resultado de imagem para EDLEISE MENDESEm entrevista cedida ao blogue do IILP, Edleise Mendes, Professora Doutora da Universidade Federal da Bahia e membro da equipe assessora central do  Portal do Professor Português Língua Estrangeira – PPPLE/IILP,  fala sobre o ensino de língua portuguesa como língua estrangeira e de herança e o interesse crescente pelo português entre falantes de outras línguas.  Confira.

  1. Paralelamente ao crescimento da difusão de PLE, observa-se, no exterior, a expansão de práticas docentes com foco em Português como Língua de Herança (PLH). A partir desta constatação, como devemos pensar o ensino do português como língua de Herança?

O contexto de ensino de português como língua de herança (PLH), embora já bastante desenvolvido em algumas línguas, como o espanhol e o japonês, por exemplo, para citar duas realidades diferentes, está ainda em plena expansão quando o foco é a língua portuguesa. Apesar de nos últimos anos termos assistido a um crescimento muito grande do interesse pelo ensino de português nessa perspectiva, não apenas no desenvolvimento de planejamentos, cursos e ações para a formação de professores, mas também na realização de projetos mais amplos de pesquisa e de intervenção nas realidades diaspóricas, muito ainda se tem para fazer. Desse modo, passado um primeiro momento em que a ausência de reflexão teórica, a incipiência das práticas docentes e a falta de materiais abrigavam aos envolvidos nesse contexto de ensino agir de modo improvisado e baseado na urgência, é momento de refletir sobre o que tem sido feito, de analisar, de modo sistemático e pormenorizado, as diferentes situações, necessidades e problemas que se apresentam, nos variados ambientes onde essas práticas têm lugar, e avançar no planejamento de cursos, de materiais e de propostas para a formação de professores, de modo a contribuir para criar um corpo de conhecimento sobre o ensino de português em contexto de herança, não somente em países onde esse tipo de ação já está em curso, como nos Estados Unidos, mas também em outros nos quais as comunidades de herança emergem e reclamam por seu lugar nas línguas e culturas em português, como nos países do Oriente Médio e da Ásia, por exemplo.

  1.    Em mais de 20 anos atuando como professora de ensino do português como língua estrangeira e como língua materna, qual sua percepção do atual cenário internacional de formação de professores que atuam na área de PLE e PLH?

Como já referido, é necessário ainda muito trabalho para desenvolver um campo de reflexão e de pesquisa consistente para a área de português como língua de herança, visto que ainda são poucas as pesquisas, publicações e iniciativas formais na formação de professores nessa área. Temos, na realidade, um grande corpo de conhecimento desenvolvido na prática, a partir das ações da sociedade civil, sobretudo nos Estados Unidos, onde em primeiro lugar essas iniciativas tomaram corpo em língua portuguesa, gerando, consequentemente, necessidades e problemas a elas associados, obrigando os envolvidos, pais, professores, educadores de modo geral, a buscarem soluções e modos de ação. Por isso, é necessário que sejam criados, por parte dos governos e das instituições responsáveis pela promoção da língua portuguesa, cursos de formação de professores como língua de herança, pensados para as diferentes realidades, mas construídos de modo conjunto pelos governos nacionais, notadamente que integram a CPLP, unindo esforços e ampliando os espaços de ação dessas iniciativas.

  1.    No segundo número da Revista Platô, publicação do IILP, foi publicado o texto de sua autoria “Vidas em Português: perspectivas culturais e identitárias  em contexto de PLH”. O texto trata exatamente sobre o tema do curso que a senhora irá coordenar no próximo dia 19 de maio. Como será este evento?

O curso a ser realizado em maio, em Lisboa, na sede da CPLP, visa dar continuidade aos esforços que o IILP vem empreendendo para ampliar o âmbito de atuação do Portal do Professor de Português Língua Estrangeira / Português Língua Não Materna (PPPLE), que não apenas disponibiliza on-line e gratuitamente, materiais e recursos didáticos para o ensino de PLE/PLNM, elaborados de acordo com os contextos linguísticos e culturais dos países membros da CPLP que integram o Portal, mas também materiais voltados para o ensino de português a públicos específicos. Isso inaugura a possibilidade de que os resultados e produções advindos das experiências pedagógicas e reflexivas desenvolvidas no curso, como a produção de Unidades Didáticas para o ensino de português em contexto de herança, passem a integrar o conjunto de materiais disponibilizados pelo PPPLE. Por esse motivo, o curso é voltado para um público específico de professores de PLE/PLH que, juntos, refletirão, conjuntamente com a Equipe Assessora Central do IILP, responsável pela condução dos trabalhos, sobre diferentes aspectos teóricos, pedagógicos e metodológicos que estão na base do planejamento de cursos e da elaboração de materiais para o ensino de PLH, usando as próprias experiências, problemas enfrentados e necessidades mapeadas como pontos de partida para as reflexões e produções. Mais do que um curso apenas teórico, a iniciativa do IILP tem como objetivo fundamental construir saber a partir das experiências dos participantes, de modo que cada Unidade Didática produzida seja o reflexo das contribuições de todos os envolvidos. Relatos de experiências, estudos de caso, reflexão e ação serão, portanto, as palavras-chave do curso.

  1.    O Portal do Professor de Português Língua Estrangeira (PPPLE), plataforma cosmopolita de gestão partilhada e multilateral da língua portuguesa, está no ar desde outubro passado e já conta com mais de 140 unidades didáticas. Como está sendo o acesso e a utilização do Portal e como ele contribui para o ensino de PLH? 

O PPPLE ainda está em fase de construção e, por isso mesmo, continua incorporando novas revisões e atualizações, com base nas análises das equipes técnicas envolvidas, assim como na grande e importante contribuição dos utilizadores do Portal. Atualmente, o PPPLE conta com mais de 140 Unidades Didáticas disponíveis, referentes aos países membros de Angola, Brasil, Moçambique e Portugal, e em breve incorporará novos materiais e também as Unidades Didáticas produzidas por Timor-Leste. Mesmo em fase ainda de testes, o Portal já apresenta um grande número de acessos e de avaliações positivas, principalmente porque vem suprir uma carência muito grande de materiais para o ensino de PLE/PLNM, sobretudo em contextos onde a produção editorial de livros para este fim não é de fácil acesso. O PPPLE será ainda ampliado, como já nos referimos, com a incorporação de uma área de ensino voltada para públicos específicos. Nesse momento, portanto, serão incorporadas Unidades Didáticas para o ensino de português como língua de herança (PLH) / português para crianças, as quais serão produzidas no curso que será realizado pelo IILP em maio, em Lisboa.

  1.    A senhora, atualmente, está como professora convidada na Georgetown University, em Washington-DC. Qual o cenário atual do PLH nos EUA?

Um dos ambientes mais fortes e expressivos no desenvolvimento do ensino de português em contexto de herança tem sido os EUA. Aqui, quando ainda não havia qualquer iniciativa dos poderes públicos, principalmente dos países que poderiam assumir o protagonismo na promoção do português nesses espaços, com o objetivo de atender à comunidade de herança lusófona, muitos pais, professores e profissionais de diferentes áreas deram início a diferentes movimentos de revitalização da língua portuguesa e das culturas que estão em sua base. Muitas dessas iniciativas foram responsáveis por importantes mudanças no ensino de português nos Estados Unidos, sobretudo para as comunidades imigrantes. Associações de pais, escolas e projetos educacionais dos mais variados tipos assumiram a dianteira e fomentaram a criação de cursos e atividades diversificadas que impulsionaram o português e seu ensino para crianças e jovens. Como exemplo dessas iniciativas, podemos citar a Associação Brasileira de Cultura e Educação – ABRACE, na Virgínia, dirigida por Ana Lúcia Lico, o Instituto Brasil de Educação e Cultura – IBEC, na Califórnia, dirigido por Valéria Sasser, a Fundação Vamos Falar Português, na Flórida, dirigida por Cristiane Martins e Beatriz Cariello, o Movimento Educacionista dos EUA, em Massachusetts, dirigido por Arlete Falkowski, e, ainda, o trabalho pioneiro no ensino do Português nos Estados Unidos desenvolvido pela Escola Ada Merritt, na Flórida, somente para citar alguns exemplos. Todas essas instituições, no entanto, foram criadas e se desenvolveram sem apoio oficial das instituições governamentais e dos países que poderiam contribuir para o fomento do português. Nesse ambiente já efervescente e fértil para o desenvolvimento do PLH, seria muito importante que a esses esforços individuais, fossem somadas propostas mais amplas de políticas para a promoção do ensino e para a formação de professores de PLH, com o auspício e o apoio dos países que têm o português como língua oficial e como língua de cultura, mas sempre de modo conjunto e multilateral.

 Por Márcia Cardoso

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Uma resposta a O ENSINO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA DE HERANÇA, POR EDLEISE MENDES

  1. Bernardo Garcia diz:

    Depois de ter conhecido a entrevistada, hoje de manha, acho interessante a sua percepcao quanto a internacionalizacao da LP. Ha, porem, que se criar situacoes concretas que possam motivar a comunidade internacional a intressar-se por esse idioma. Um dos agentes da internacionalizacao seria, por exemplo, o factor socio-economico. Tenha-se como exemplo Angola. Este por imperativo da procura do mercado de trabalho e melhores condicoes de vida tem servido muito para a difusao da LP em varios paises vizinhos, e nao so, paisrs asiaticos e outros, convivem com os nossos povos pelo portugues como unico veiculo de comunicacao.

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