Educadora compartilha sugestão de percurso para que os estudantes se aproximem dos textos científicos e criem um podcast
Para Moacir Gadotti, projetar é “lançar-se para a frente”, antever um futuro diferente do presente. Pressupõe agir, ter uma ação intencionada sobre aquilo que se quer inovar. Por isso, que tal pensar como nós, professores, podemos potencializar o tempo e os espaços escolares?
Primeiramente, vamos entender os objetivos que estruturam uma pedagogia de projetos. Erramos ao acreditar que ela está restrita a estratégias atraentes para transmitir um conteúdo aos alunos ou pedir que demonstrem entendimento por meio de um produto final. Na verdade, é uma metodologia centrada na criatividade, um processo complexo que busca minimizar a distância entre as experiências na escola e as demandas exigidas pela sociedade atual.
Para tal, devemos pensar como podemos sintonizar a identidade cultural de nossos alunos com os conteúdos curriculares de forma que estes deixem de ser apenas questões teóricas ou abstratas e passem a ser meios para ampliar a interação dos jovens com a realidade, de forma crítica e dinâmica.
Quando nos sentimos parte de um processo, passamos a agregar valores e os integramos a um todo. Assim também acontece com nossos alunos, eles trabalham de modo autônomo, mas também cooperativo. Percebem o esforço pessoal investido na solução de problemas importantes para o grupo, gerando assim, a necessidade, busca pelo conhecimento.
Ao lançarmos mão dos projetos em nosso cotidiano escolar, estabelecemos um pacto que mobiliza naturalmente diversas competências cognitivas. Pois rompemos com um modelo fragmentado de Educação e desenvolvemos a capacidade de articular conhecimentos de diversas áreas para que possamos lidar com os problemas, pensá-los e construir soluções possíveis para eles.
Para planejar os projetos
O primeiro passo para estruturar um projeto é ter como ponto de referência a realidade do aluno e quais lacunas devem ser preenchidas ao longo do processo – isso mesmo, processo. É muito importante valorizar os avanços e também as dificuldades em relação ao conhecimento colocado em prática.
Construímos uma falsa imagem de que nosso aluno não pode errar, quando, na verdade, a sala de aula é um laboratório, um espaço para experimentar, formular hipóteses, confrontar dados, reunir informações, realizar pesquisas, conversar, desconstruir e construir saberes. Dessa forma, os conteúdos deixam de ser um fim em si mesmos e passam a sermeios para ampliar a criticidade, a cidadania e o desenvolvimento de ideias.
O ensino de Língua Portuguesa nos permite enveredar pelas trilhas dos projetos, afinal, é a prática da linguagem, como discurso e produção social, que dá vida à língua (nosso objeto de estudo) e é a partir do jogo da comunicação que se aprende a operar a linguagem. O indivíduo passa a ser capaz de se colocar como um interlocutor que inventa, cria e produz sentido.
Tendo em vista o que nos orienta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a elaboração de um projeto no componente curricular de Língua Portuguesa supõe planejar estratégias que promovam a textualização do discurso, a expressão oral, a compreensão auditiva e a produção escrita.
Pensando assim, podemos destacar o campo das práticas de estudo e pesquisa, que visa a desenvolver habilidades voltadas ao estudo, à pesquisa e à reflexão sobre a relação entre os textos e seus contextos de produção e circulação.
Hora de colocar a mão na massa
Para elaborar seu projeto faça, inicialmente, um levantamento do que os alunos já sabem sobre os textos científicos, considere se já estiveram em contato com o gênero artigo de divulgação científica. Para apresentar tipos de publicações científicas, pode utilizar os artigos das revistas Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças. Quando estiver pesquisando, escolha temas que dialoguem com o perfil de sua turma.
O passo seguinte é a problematização. Questione como a divulgação científica pode se tornar um mecanismo de inclusão do cidadão na cultura de nosso tempo. Ou, ainda, como o acesso à informação científica promove debates sérios e com base em evidências.
Para o desenvolvimento do projeto, é interessante agregar outros componentes para ampliar repertórios e análises, bem como ter uma diversidade de abordagens. O texto de divulgação científica, comumente, apresenta uma identidade estrutural que facilita o reconhecimento por parte do leitor. Os alunos devem perceber o processo que envolve a investigação e a construção de um conhecimento novo sobre determinado assunto – também vale ressaltar que toda pesquisa está relacionada a outras que antecederam e lhe dão sustentação.
O que precede a ação do saber fazer é o saber, melhor dizendo, conhecer o uso responsável e crítico das diversas linguagens e a maneira como o autor deixa sua marca implícita naquilo que realiza. Quando nos referimos às múltiplas linguagens de um texto, entendemos que as referências de
produção têm, em sua origem, dados das mais diversas estruturas, como os infográficos, as fotorreportagens, a iconografia, vídeos e áudios.
Outra etapa importante é uma leitura apreciativa e o reconhecimento do assunto, seguida de reflexões sobre o tema. Artigo de divulgação científica é um gênero discursivo que torna informações de natureza científica acessível ao público leigo, em que prevalece a objetividade, a ética, o senso crítico e o respeito à veracidade das informações.
Construção do produto final
Com o intuito de desmistificar conceitos estereotipados, proponha aos estudantes a criação de um podcast científico. Para tal, retome os passos construídos ao longo do projeto: delimitação de um tema, levantamento de uma hipótese, objetivos da pesquisa, pesquisa de referências, confronto e análise dos dados.
Hora de planejar o texto que será gravado e publicado. Com estrutura simples, deverá apresentar uma breve descrição para contextualizar a explicação do fato, seguido do elemento gerador do texto. Em seguida devem se aprofundar no fenômeno científico escolhido, estimule que façam analogias e comparações para que o interlocutor compreenda com facilidade a informação. E, por fim, a conclusão e/ou a avaliação sobre o fato abordado.
Ao adaptar a produção do artigo científico para o gênero podcast, é importante garantir o uso de uma linguagem simples, objetiva e dinâmica. A função fática da linguagem servirá para testar a interação com o interlocutor, mostre aos alunos que um diálogo iminente cria um vínculo de proximidade, o que ajuda a criar empatia com quem não temos muita intimidade.
Crie rubricas de avaliação e reelaboração como, por exemplo, considerar se o texto escrito por eles tem uma seleção de conteúdos coerente com o tema; se o roteiro prevê o contato com o interlocutor; se a gravação ficou com áudio sem ruídos ou silêncio e risadas descontextualizadas.
Compartilhe, primeiro, com a própria turma e faça um debate sobre as propostas desenvolvidas. Em seguida, divulgue nas mídias sociais e nas plataformas de áudio. Incentive a propagação e o compartilhamento, lembrando sempre da postura ética e responsável ao receber e difundir informações.
O caminho percorrido por um projeto é simplesmente sem volta. Não somos mais os mesmos, não retornamos aos antigos textos com a ótica anterior. Projetamos e nos lançamos para um novo que nos abre outros olhares.
Um abraço e até a próxima!
Ana Cláudia.
Fonte: Nova escola
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